Encontro de pais- Desenvolvimento da
criança dos 0 aos 10
A importância da formação para o
desenvolvimento da criança
Longe de procurar, com este texto,
ensinar a educar, a relevância em abordar a temática do desenvolvimento
prende-se com um duplo objetivo. O primeiro passa por potenciar um melhor conhecimento
das necessidades da criança, que são distintas conforme o seu estádio de
desenvolvimento e, em consequência, o segundo objetivo passa por, através dessa
identificação das necessidades concretas respeitantes a cada faixa etária,
poderemos adequar os cuidados prestados e o acompanhamento que melhor se adapte
a elas, independentemente do nosso papel educativo.
Primeiros momentos de vida
Ao contrário do que durante muitos
anos se acreditou, a importância dos primeiros tempos de vida é fundamental
para o desenvolvimento dum ser humano, sendo aí que se estabelecem as bases
para o seu percurso afectivo e cognitivo.
No entanto e, apesar de provavelmente
esta ser a geração de pais mais informada acerca do desenvolvimento infantil,
ainda se verificam com relativa frequência casos em que as necessidades da
criança não são satisfeitas, sendo até muitas vezes desvalorizadas face a
outras recorrentes.
Primeiro ano de vida
Após nove meses dentro do útero
materno, o bebé estará provavelmente preparado para a sua aventura no mundo
exterior. No entanto, mais do que qualquer outro animal, o seu desenvolvimento
prolongar-se-á muito para além do nascimento, quer a nível motor, quer
cognitivo, verificando-se uma completa dependência dos cuidados ambientais.
Este período de dependência é mais acentuado nos mamíferos e nas aves e, em
especial, nas espécies mais encefalizafas, ocorrendo a máxima duração na nossa
espécie. No seu conjunto, o
recém-nascido encontra-se mais afastado da idade adulta do que as crias de
outras espécies. Poderemos dizer que, de certo modo, ao nascer, somos todos um
pouco prematuros.
Se, por um lado, esta dependência constitui
um grande inconveniente para a criança e progenitores, simultaneamente,
verificam-se grandes benefícios. Com efeito, um período tão longo de
dependência justifica-se pelo facto de ser uma criatura cuja principal
especificidade é a capacidade de aprender e, invenção básica, a cultura, ou
seja, os modos de estar e ser que cada geração transmite à seguinte. Desta
forma, com tanto para aprender, as crianças possuem muito a ganhar com o facto
de serem forçadas a permanecer junto daqueles que as ensinam.
Em última instância, podemos definir
esta relação como possuindo ganhos para ambos os lados. Se, no caso do bebé, o
seu objectivo está ligado à própria sobrevivência, no caso da mãe o mesmo
objectivo verifica-se, mas, neste caso, a dos seus genes.
Estes primeiros tempos de vida são
caracterizados por uma enorme dependência da mãe (ou figura de referência
protectora), com o qual o recém-nascido mostra-se quase fundido, ainda sem
grande capacidade de individualidade e autonomia. Nesses termos, o sentimento
de aceitação incondicional pela mãe é um factor indispensável ao
desenvolvimento da confiança em si e no meio que o envolve.
O tipo de vinculação que a criança
estabelece possui uma importância fundamental na qualidade das ligações
emocionais futuras da criança. Aquelas cuja ligação com a mãe decorreu de modo
seguro estão naturalmente mais aptas a gostar de ir à escola, aprender,
brincar, receber e visitar amigos e, um dia namorar, casar e terem a sua vida
organizada, pois possuem uma confiança básica em si e no mundo.
O “equipamento” do recém-nascido
Ao nascer, os bebés possuem pouco
controlo sobre o seu aparelho motor: agitam-se duma forma descoordenada e nem
conseguem segurar a cabeça. Com 4 meses, é natural que já se sentem com apoio e
tentem agarrar objectos que estejam à vista, tarefa essa que realizam com taxas
reduzidas de sucesso.
As crianças aprendem principalmente
através dos sentidos e são fortemente afectadas pelo ambiente imediato, daí a
importância de fornecermos um meio sensorial rico e responsivo de modo a
promover o desenvolvimento da inteligência das crianças.
Enquanto as capacidades motoras dos
bebés são, inicialmente, muito limitadas, os sentidos apresentam, desde cedo,
com maturidade considerável. Tal é possível comprovar através da verificação das
mudanças nos ritmos de respiração, de mamar e de índices semelhantes de
resposta à estimulação.
Possuem uma audição apurada,
conseguindo descriminar entre tons de diferentes alturas e intensidades. Verifica-se
uma tendência para responder a uma voz humana suave, especialmente feminina,
preferencialmente a outros sons. Conseguem ver, apesar de um tanto “míopes” e
incapazes de focar objectos a distâncias maiores de um metro e vinte
centímetros. Conseguem discriminar
facilmente brilho e cor e seguir um estímulo móvel com os olhos. São ainda sensíveis
ao tacto, aos odores e ao paladar.
Desenvolvimento emocional/Social
Os instintos e reflexos inatos
funcionam, em primeiro plano, à volta da ingestão de alimentos e à satisfação
das necessidades básicas. Em consonância, existe uma enorme dependência da mãe,
com a qual o recém-nascido mostra-se quase fundido, ainda sem grande capacidade
de individualidade e autonomia.
O sentimento de aceitação
incondicional por parte da mãe é um factor indispensável ao desenvolvimento da
confiança em si e no mundo que a rodeia.
Se, no início, a criança sente a mãe como parte de si, no culminar do
primeiro ano ela aprende a vivenciá-la como objeto separado (com identidade e
papel próprios). Desenvolve a capacidade de tolerar a frustração e, desta
capacidade de espera, resulta o nascer duma representação interna de mãe.
Para que este desenvolvimento ocorra
satisfatoriamente é importante que esta etapa seja preenchida de boas
experiências emocionais, que permitam ao bebé um modelo de estabilidade e
segurança, previsível e contínuo. “Ganham” os bebés que estabelecem uma boa
ligação aos adultos mais próximos, e com eles estabelecem uma relação de
confiança básica, marcada por um padrão rotineiro, sem períodos de separação
traumáticos ou perda de figuras de referência. Perdem aqueles que, por
oposição, possuírem vinculações inseguras, marcadas por instabilidade ou por
múltiplos prestadores de cuidados.
Actividade Lúdica do bebé
O bebé precisa adaptar-se a um mundo
novo mas, para tal, necessita conhecê-lo e compreendê-lo. Por natureza, as
crianças são muito curiosas, possuindo um desejo natural de compreender tudo o
que ocorre à sua volta, embora essa exploração seja limitada pelas suas
limitações motoras, que restringem as possibilidades de exploração.
Como referido, desde o primeiro
momento que a capacidade perceptiva e a inteligência do bebé actuam em
consonância com o ambiente. Um bebé, deitado
no berço, verifica que, ao mexer-se, o móbil também se mexe. A partir daí,
repete o movimento, porém, agora de forma objectiva e consciente. Dado que o
bebé, nesta etapa, se encontra maioritariamente deitado, a decoração da cama do
bebé estimula a sua inteligência. Obviamente que, à medida que vai crescendo,
tal estende-se a outros espaços.
Aos 4 meses, a criança consegue
controlar de forma mais eficaz os seus movimentos, podendo, com razoável
precisão, aproximar a mão dos objectos, desde que próximos. Então, o chocalho que ela sacode e produz
som, o brinquedo que ela morde, a grade do berço, entre outros, cada objecto
ganha vida e estimula-a para novas e ricas experiências.
Nestas idades é muito comum brincar
com o abrir e fechar os olhos o que, para uma criança, representa perder ou
possuir o mundo. Uma boa forma de estimulação que a criança pode realizar com o
adulto é a tradicional brincadeira de esconder a cara com algo, e depois
reaparecer.
Atirar objectos para o chão,
actividade que tanto aborrece os adultos (mas que diverte imensamente as
crianças), acaba por ser uma experiência que o bebé faz com o objecto e com o
adulto, numa relação causa/efeito, em que o atirar o objecto causa o seu
desaparecimento e respectivo barulho na queda, para não falar da reacção dos
adultos.
No segundo semestre de vida, um bebé
descobre uma nova e maravilhosa ferramenta de exploração do mundo, os dedos, e
a sua capacidade para entrar em pequenas aberturas. Geralmente, os receptáculos
preferidos para os seus dedos são os olhos, \ouvidos boca (sua e dos outros),
entre outros. Nesta fase, a criança passa a explorar tudo o que seja possível
meter um dedo (daí a necessidade de especial atenção às tomadas eléctricas).
O bebé sente prazer em explorar,
encaixar, descobrir, construir… O desejo de aprender e conhecer é evidente em
todos os bebés saudáveis. No início da vida, cada gesto e acto executado actua
de forma permanente na construção da sua inteligência e desenvolvimento. A
curiosidade faz parte da natureza humana, e caminha, lado a lado, com os
interesses e necessidades de cada indivíduo, influenciando-o.
Aqui pede-se aos pais um equilíbrio
salutar entre o permitir uma exploração saudável do seu mundo, e a imposição de
limites protectores, sem coarctar as experiências e vivências que lhe permitam
crescer, aprender e compreender tanto objectos, como pessoas ao seu redor.
Ideias para estimulação do bebé
1º. Mês - Converse ou cante para o bebé. O som da sua voz é
reconfortante e transmite-lhe segurança.
Faça massagens à criança, estimule cada
parte do corpo dela: pés, mãos, costas, rosto. Pode-se colocar música suave e
revelar, através deste contacto físico, os seus sentimentos por ele pois, o
toque das mãos transmite amor, carinho e segurança.
2º Mês -
Apresente objectos grandes e coloridos para que ele possa brincar e tentar
alcançá-los com as mãos.
Junto ao berço coloque um móbil colorido
dentro do campo de visão do bebé.
3º Mês
- Cante, faça gestos e expressões faciais. O bebé
tentará imitar e responderá aos estímulos com sorrisos e ruídos.
Estimule o tacto do bebé com objectos de
diferentes texturas. Ex.: passar no pé ou na mão dele uma pluma e observar as
reacções; encostar na mão algo áspero e depois macio. Coloque-o sentado apoiado
por almofadas.
4º Mês -
Conte histórias curtas e imite o barulho dos animais com diferentes tons de
voz. O bebé tentará imitar.
Mande-lhe brinquedos (bolas, dados) para ele tentar agarrar.
5º Mês -
Deixe-o brincar com brinquedos macios, como mordedores, pois tudo que ele
agarrar, vai levar à boca.
Coloque músicas de diferentes ritmos e
dance com ele.
Espalhe brinquedos à sua volta deixe-o a
brincar no chão.
6º Mês
- Durante as refeições relate ao bebé o que ele está a
comer. Mostre-lhe os alimentos.
Nesta fase, convide a criança para
passear, e espere que ela lhe estenda os braços.
Imite o barulho dos animais e objectos, como gatos, telefone, estimulando-o a fazer o mesmo. Ao ar livre, deixe-o próximo das árvores, para que ele observe o balancear o e barulho das folhas.
Imite o barulho dos animais e objectos, como gatos, telefone, estimulando-o a fazer o mesmo. Ao ar livre, deixe-o próximo das árvores, para que ele observe o balancear o e barulho das folhas.
7º Mês
– Proporcione à criança a manipulação de brinquedos que
façam barulho, de diferentes cores, formas e tamanhos. Coloque-os próximos do
bebé e estimule-o de modo a ele ir buscá-los.
Ensine-o a dizer adeus. Em pouco tempo repetirá os gestos dos adultos.
8º Mês
- Brinque às escondidas com uma toalha ou cortina.
Permita que a criança mande objectos para o chão. Ele repetirá inúmeras vezes
este movimento. Desta forma, está-se a fomentar a noção de causa e efeito.
Conte histórias, mostrando as imagens do
livro.
9º Mês
- Deixe perto do bebé brinquedos grandes e coloridos.
Ensine-o a empilhá-los e a encaixá-los.
Quando junto do bebé, relate-lhe tudo o que faz. Ele começará a repetir sílabas. Converse sobre animais e imite o barulho dos mesmos.
10º
Mês - Converse com o bebé e dê-lhe alternativas. Por
exemplo: "Queres o urso ou a bola". Assim procurará o desejado.
Dance e cante com ele no colo, ele tentará
imitar a coreografia e soltará os seus monossílabos.
Dê-lhe um telefone de brinquedo. Assim,
está a incentivar a linguagem.
11º
Mês - Participe nas brincadeiras da criança. Deixe à mão
objectos que possam ser colocados e retirados de uma caixa ou balde.
Chame a atenção dele para objectos e
animais conhecidos e também para as novidades.
Estimule-o a beber água em copos ou com o auxílio de palhinhas.
12º
Mês - Cante e conte histórias. Disponibilize livros e
revistas para manusear. Incentive-o a comer sozinho e a guardar brinquedos. Ele
já entende ordens curtas, portanto explique-lhe tudo: o que estão a fazer, onde
vão, etc... Brinque às escondidas ou à apanhada com a criança. Jogue à bola com
ela.
Segundo / Terceiro
Ano
Depois do primeiro ano, existem três
marcos evolutivos do desenvolvimento da criança:
- O aparecimento da marcha;
- O início da linguagem (sobretudo a possibilidade de dizer "não");
- E o controlo dos esfíncteres, que
representa a possibilidade de entre os 2 e os 3 anos prescindir-se do uso de
fraldas.
Com a aprendizagem da marcha e da
linguagem, a criança adquire, de forma progressiva, a sua independência motora,
ficando muito mais apta a explorar o que a rodeia. Nesta fase, a capacidade de
tolerar a distância e a ausência dos pais é maior, mas ainda não é substancial.
Para que exista uma presença emocional dos pais na vida psíquica da criança, a
sua presença é ainda muito necessária.
Por esta altura, a criança começa a andar,
sobe e desce escadas, vai para cima dos móveis, etc. - O equilíbrio é
inicialmente bastante instável, uma vez que os músculos das pernas ainda não
estão bem fortalecidos. Contudo, a partir dos 16 meses, o bebé já é capaz de
caminhar e de se manter de pé em segurança, com movimentos muito mais
controlados. Verifica-se igualmente uma melhoria da motricidade fina devido à
prática - capacidade de segurar um objecto, manipulá-lo, passá-lo de uma mão
para a outra e largá-lo deliberadamente. Por volta dos 20 meses, será capaz de
transportar objectos na mão enquanto caminha.
Após o segundo aniversário, e à medida que o seu equilíbrio e coordenação aumentam, a criança é capaz de andar ao pé-coxinho ou saltar de um pé para o outro quando está a correr ou a andar. É mais fácil manipular e utilizar objectos com as mãos, como um lápis de cor para desenhar ou uma colher para comer sozinha.
No segundo ano de vida, a linguagem começa
igualmente a desenvolver-se e, a possibilidade de dizer "não",
"eu" e "meu" surge como a expressão do eu próprio em
oposição ao outro. Verifica-se uma grande mudança na consciência que a criança
tem de si própria.
Após os 15 meses, verifica-se uma maior
capacidade de compreensão das ordens impostas, inicialmente com o recurso de
gestos, depois, sem os mesmos. Começa a conseguir acompanhar ordens simples, do
género "Dá-me o brinquedo".
Uma vez que este é o período em que as
crianças estão mais abertas à aprendizagem da linguagem, os adultos que falam
muito com elas, que lhes lêem, ensinam canções e poemas infantis (por outras
palavras, que usam a linguagem para comunicar com elas) têm um efeito marcante
no seu desenvolvimento linguístico.
As inter-relações pessoais contribuem de
modo fundamental para que as crianças aprendam a distinguir quais os
comportamentos adequados e quais não são. À medida que o seu comportamento se
torna cada vez mais complexo durante o segundo ano de vida, a criança vai
aprendendo com as expressões faciais dos adultos, com o seu tom de voz, gestos
e palavras, quais os tipos de comportamento que geram aprovação e quais geram
reprovação. Os padrões geram-se através do dar e receber entre as crianças e os
adultos que cuidam delas. Contudo, e a par do comportamento, são também muito
importantes as emoções, os desejos e a auto-imagem em formação.
A partir dos 24 meses, surge a idade dos
"Porquês?" À medida que se desenvolvem as suas competências
linguísticas, a criança começa a exprimir-se de outras formas, que não apenas a
exploração física - trata-se de juntar as competências físicas e de linguagem
(por ex., quando faço isto, acontece aquilo), o que ajuda ao seu
desenvolvimento cognitivo. É capaz de produzir regularmente frases de 3 e 4
palavras.
A partir dos 32 meses, é já capaz de
conversar com um adulto usando frases curtas e de continuar a falar sobre um
assunto por um breve período. Ocorre igualmente um desenvolvimento da
consciência de si: a criança pode referir-se a si própria como "eu" e
pode conseguir descrever-se por frases simples, como "tenho fome".
No seu processo de evolução, por volta dos
dois anos/dois anos e meio, vai-se verificar a capacidade de criar imagens
mentais (aquilo a que chamamos símbolos, ideias). Tal leva à compreensão dos
conceitos. Progressivamente e, com a ajuda dos adultos, vai sendo capaz de
compreender conceitos como dentro e fora, cima e baixo. Por volta dos 32 meses,
começa a apreender o conceito de sequências numéricas simples e de diferentes
categorias (o que mais tarde lhe permitirá o contar até 10; formar grupos de
objectos - 10 animais de plástico podem ser 3 vacas, 5 porcos e 2 cavalos,
etc.).
Por esta altura, as brincadeiras que implicam o fazer de conta ou a imaginação e que envolvem dramas humanos (por ex., bonecos a abraçar-se ou a lutar) ajudam a criança a aprender a relacionar uma imagem ou representação com um desejo, e depois usar essa imagem para pensar.
Surge então a capacidade de
auto-observação. Esta capacidade é fundamental para o autocontrolo de
actividades tão simples como pintar dentro ou fora dos riscos de um desenho, ou
fazer corresponder imagens com números. A auto-observação também ajuda a
estabelecer relações de empatia com os outros e a corresponder a expectativas.
Nesta fase, a criança irá investir muito na medição das suas posses, limites (de que algumas birras são exemplo), bem como em comportamentos omnipotentes, de risco ou de oposição. Embora seja um aspecto fundamental em todo o desenvolvimento, é uma altura em que se torna maior a importância das regras e limites estabelecidas às e com as crianças.
As birras são uma das formas mais comuns
da criança chamar a atenção, e podem dever-se a mudanças ou a acontecimentos,
ou ainda a uma resposta aprendida (costumam estar relacionadas com a frustração
da criança e com a sua incapacidade de a comunicar de forma eficaz).
Por vezes, verifica-se uma tendência por parte dos adultos em facilitar, provavelmente devido a uma culpabilidade inconsciente que sentem em não passarem com os seus filhos o tempo que consideram ideal, sentindo que conter, frustrar, contrariar ou proibir pode prejudicar a criança. Muitas vezes, existe até um receio de perda do amor por parte da criança.
Mas, o que se verifica é que as crianças
mais inseguras e com um maior sentimento de desprotecção são aquelas que, desde
pequenas, não lhes foram passadas regras nem limites por uma entidade
protectora.
Bases para a
aprendizagem da disciplina
O cliché de que a seguir ao amor, o que de
mais importante podemos dar a uma criança são os limites, faz todo o sentido.
Toda a aprendizagem, mesmo a dos limites e da organização, começa com o
carinho, a partir do qual as crianças aprendem a confiar, a sentir calor
humano, intimidade, empatia e afeição pelos que a rodeiam. Os limites e a
organização começam com o afeto, pois grande parte da tarefa de as ensinar a
interiorizar limites baseiam no desejo dela em agradar ao "outro".
Um dos problemas associados às regras e limites fundamentalmente estabelecidos a partir do medo prende-se com a impossibilidade da figura de autoridade estar sempre junto da criança, o que faz com que, na sua ausência, a criança não sinta medo da punição. Por outro lado, o excesso de medo pode criar na criança ansiedade e inibição na maior parte das situações, chegando ao ponto de inibir formas saudáveis de expressão.
Quando a disciplina é estabelecida como uma aprendizagem e é reforçada, com muita empatia e carinho, as crianças sentem-se bem por seguirem as regras. A sensação de saber que se é "o menino dos olhos" de alguém é muito agradável. Quando essa criança sentir o olhar de desapontamento por um comportamento incorrecto, vai possuir uma sensação de perda porque não recebe o olhar carinhoso de quando se porta bem. Se nunca tivesse sentido tal, não haveria sensação de perda ou de frustração que a motivasse interiormente a modificar o comportamento.
É necessário ver que a disciplina é uma tarefa a longo prazo. O objectivo é ensinar a criança a controlar os seus próprios impulsos. Nesse sentido, existem pequenos “truques” que ajudam na interiorização dos limites nas crianças.
É reconhecido que ao salientarmos um
traço, existe uma maior probabilidade de o repetir. Ao observarmos adultos em
interacção com crianças, verifica-se a frequência com que são destacados
aspectos negativos, repreensões, em comparação com os elogios aos bons
comportamentos. Nós, adultos, não o realizamos por malícia, ou por desejar o
mal para os nossos filhos. O que se verifica com frequência é que repetimos nas
nossas crianças os modelos educativos que nos foram transmitidos, que vastas
vezes não primavam pelo uso do elogio. No entanto, esses padrões educativos
podem ser alterados, especialmente ao termos consciência das nossas acções e do
impacto que possuem no desenvolvimento da criança. Cabe-nos a nós, adultos,
realizarmos uma auto-reflexão das nossas interacções com as crianças, e
analisar o feed-back que lhes transmitimos.
Ao termos o objectivo de aumentar o
número de comportamentos positivos por parte duma criança, será através do
elogio, do carinho no momento certo, que o atingimos. Nestas situações
verifica-se a regra do que é salientado tende a repetir-se. Uma criança, ao
efectuar um comportamento desejável, se obtiver a atenção positiva, uma
recompensa (elogio, miminho, incentivo, não se trata de recompensa material),
terá maior tendência a repetir esse comportamento no futuro. Se, no sentido
inverso, atribuirmos atenção (mesmo que negativa) à criança quando tem
comportamentos incorrectos, repreendendo-a, enquanto que não a estimulamos ao
realizar uma atitude correcta, pois partimos do princípio que faz apenas o que
é seu dever, estamos a estimular o comportamento indesejável. As crianças
querem/necessitam de atenção e, se não a obtiverem através de comportamentos
positivos, vão requere-la com comportamentos indesejáveis.
É claro que não se pede que se deixe
de repreender as crianças quando existe essa necessidade, não é esse o
propósito. Ao longo do seu desenvolvimento, é fundamental que a criança explore
o seu mundo, e isso implica que os adultos necessitem colocar limites aos seus
filhos. Essa curiosidade e interesse são saudáveis por parte das crianças, mas
o papel dos adultos passa por promover a sua socialização, o que leva a por
limitar a sua exploração quando necessário. Um dos papéis do educador passa por
transmitir e ensinar o que a criança pode ou não realizar, incutindo-lhe regras
e limites essenciais para o seu desenvolvimento e segurança. O que se pretende
é que, além do referido, se estimule a criança pelos bons movimentos que
realiza. O elogio, o incentivo, a confiança que lhes fornecemos são ferramentas
que ela interioriza, e que lhe ajudam a sentir confiança em si para explorar o
mundo, e para resolver os problemas de forma autónoma, confiando em si, nos
seus recursos, e nas pessoas que lhe são significativas.
Ao longo da nossa convivência com as
crianças, por vezes tendemos a esquecer que são crianças, e que possuem uma
capacidade de entendimento distante da dos adultos. Também assim o é no modo
como lidam com os elogios como com as críticas. Ao realizarmos uma crítica a um
adulto, ele poderá ter a capacidade de analisar o que lhe foi comunicado, e
ajustar o seu comportamento de modo a evitar essa punição. Contudo, este
processo mental poderá ser muito complexo para uma criança e, até certas idades,
impossível de realizar. Ou seja, para uma criança que recebeu uma crítica,
poderá ser muito difícil alterar e ajustar o seu comportamento, pois ainda não
possui a maturidade cognitiva que lhe permita compreender que, para evitar
receber a repreensão, tem de mudar o comportamento "X" pelo
"Y". No momento de repreender, pede-se paciência aos educadores, cujo
papel não poderá passar apenas pela crítica, mas igualmente pelo ensinar à
criança o modo correcto de agir, mostrando sempre a esperança de que na próxima
vez a criança será bem sucedida.
Esta dificuldade cognitiva em ajustar
o comportamento aquando de uma crítica, não se verifica no momento em que
recebe um elogio por um bom comportamento. Nesse caso, trata-se de um processo
cognitivo mais elementar, em que apenas realiza uma associação directa entre o
comportamento realizado e a atenção positiva recebida. Por aí passa
frequentemente o sucesso na mudança de comportamento das crianças, o salientar
os aspectos positivos, de forma a tornarem-se mais frequentes, e a não
atribuição de atenção às pequenas atitudes negativas, procurando que ocorram
com menos frequência. Quando não é possível desvalorizar, e a repreensão
torna-se necessária, importa explicar à criança o que fez de forma incorrecta,
instruindo-a sobre o procedimento desejado e, claro, mostrar-lhe que sabemos
que ela conseguirá ser bem sucedida no futuro.
É importante focar uma pequena nota no que se refere às repreensões e aos castigos. Quando o adulto se depara com a necessidade de repreender uma criança, o seu propósito não é vingar-se ou fazer mal à criança. O objectivo é sempre o de alterar o comportamento, que a criança tenha consciência de que o que realizou é incorrecto, e que esperamos no futuro que altere o comportamento específico que o levou à repreensão. Dessa forma, ao falarmos com a criança, devemos evitar expressões como o "És sempre assim", "Nunca fazes nada bem", entre outras. O mal de expressões como as referidas (entre outras) é que, além de não comunicarmos à criança qual o comportamento que consideramos incorrecto, não lhe transmitimos a esperança de o poder alterar, qualificamo-la de forma negativa, estamos a prejudicar a autoconfiança e a obstaculizar um sucesso futuro. Quanto ao comportamento em questão, é importante referir, de forma clara, o que desaprovamos, pois é o que queremos modificar e, de forma construtiva e optimista, comunicar-lhe o que esperamos dela, delegando-lhe a responsabilidade de confiarmos que, no futuro, conseguirá realizar o comportamento desejado. Expressões como as referidas anteriormente (sempre e nunca) funcionam mais como uma avaliação geral à criança, ao invés de focar o comportamento específico, aquele que realmente queremos alterar.
Uma última nota importante para a questão
dos limites. Um modo fundamental de aprendizagem para as crianças é através da
modelagem (imitação) das pessoas com quem privam, sendo o papel doa
progenitores de grande importâncis: a moral desenvolve-se a partir da tentativa
de querer ser como um adulto admirado, daí a importância de procurarmos ser os
melhores modelos possível para as nossas crianças.
Socialização da criança
Ao nível da socialização, a criança
aprecia a interacção com adultos que lhe sejam familiares, imitando e copiando
os comportamentos que observa. No entanto, vai se verificando um aumento
progressivo da autonomia: sente satisfação por estar num grupo de crianças,
necessitando apenas de confirmar ocasionalmente a presença e disponibilidade
do(s) adulto(s) de referência - esta necessidade aumenta em situações novas,
surgindo uma maior dependência quando é necessária uma nova adaptação.
As suas interacções com as outras crianças
são ainda limitadas: as suas brincadeiras decorrem sobretudo em paralelo e não
em interacção com elas. A partir dos 20-24 meses, e à medida que começa a ter
maior consciência de si própria, física e psicologicamente, começa a alargar os
seus sentimentos sobre si aos outros - desenvolvimento da empatia (começa a ser
capaz de pensar sobre o que os outros sentem).
Inicialmente, o leque de emoções é vasto,
desde o puro prazer até à raiva frustrada. Embora a capacidade de exprimir
livremente as emoções seja considerada saudável, a criança necessitará de
aprender a lidar com as suas emoções e de saber que sentimentos são adequados,
o que requer prática e ajuda dos adultos.
No decorrer do terceiro ano de vida, começa a verificar-se como tema comum de brincadeira a imitação e tentativa de participar nos comportamentos dos adultos: por ex., lavar a loiça, maquilhar-se, etc.
Controlo dos esfíncteres
Com cerca de dois anos de idade, inicia-se
o processo de ensino do controlo dos músculos que permitem a possibilidade de
contenção e expulsão das fezes e da urina (controlo dos esfíncteres). E,
simultaneamente, a aprendizagem da limpeza do corpo. Travam-se as
"lutas" do bacio. Do ponto de vista da criança, tal implica uma
renúncia, um "favor" que se presta à mãe. Os pais desejam que a
criança passe a utilizá-lo sempre que sente necessidade e esta vai aproveitar a
possibilidade de controlo para os seus momentos de oposição e jogos de
afirmação. É um momento importante do desenvolvimento e é de salientar que
poderá provocar na criança muita ansiedade, sobretudo quando há excessiva
rigidez na educação (chegando-se por vezes ao castigo quando a criança não controla).
É desejável que este processo seja realizado com tranquilidade, aceitando o
ritmo de cada uma.
É de evitar um exagero na necessidade de limpeza. Nalguns casos, a associação entre sexo e "porcaria" poderá mais tarde, no adulto, repercutir-se como uma não aceitação do seu próprio corpo, dos seus cheiros e líquidos, o que eventualmente, levará a manifestações negativas nas suas vivências afectivas e comportamentos mais íntimos.
Terceiro / Quarto
Ano
Esta é uma fase marcada pelas repercussões
psicológicas do reconhecimento da diferença anatómica entre sexos.
A criança pequena começa a identificar-se
com o progenitor do mesmo sexo (o menino com o papel do pai, a menina com o
modelo materno). Fazem parte da mesma época as brincadeiras em que se mostram os
órgãos genitais (conduta aparentemente "exibicionista", brincadeiras
de médicos, etc.). É a época das perguntas, das repetições com tonalidades
prazerosas. O pensamento apresenta uma falta de separação nítida entre a
fantasia e a realidade.
Nesta fase aumenta a curiosidade em
explorar questões relacionadas com a vida dos adultos, como: de onde vêm os
bebés, como foi o seu nascimento, etc. Cabe aos pais procurar satisfazer essa
curiosidade, sem cometerem o erro de aprofundar à medida do desejo que a criança
parece requerer, pois ela ainda não possui uma maturidade psicológica que
permita lidar com essa informação.
Nesta etapa surge, como factor
significativo, a necessidade de manter viva a diferença geracional entre os
pais e a criança.
Entre os Cinco/Seis anos até aos 10
Neste período, a criança continua a
precisar duma grande proximidade afectiva dos pais, com o carinho associado
necessário. Porém, progressivamente aumenta o período de tempo que passa com
outras crianças, bem como a importância dessas relações para a sua vida. Aumenta
cada vez mais a importância de possibilitar à criança oportunidades de interagir
com outras da sua idade na maioria dos dias da semana (Brazelton &
Greenspan, 2002).
É igualmente neste período da vida da
criança que se inicia um “período de calma” no desenvolvimento emocional e
impulsivo. O pudor faz passar para segundo plano o interesse pelo que é
instintivo, principalmente perante os adultos - o chamado período de latência
sexual, que vai até a puberdade. A esfera de acção excede a família (jardim de
infância, companheiros da mesma idade). A fantasia concentra-se nas fábulas
(bem e mal); as brincadeiras sujeitam-se a regras. O princípio da realidade vai
ganhando terreno ao princípio do prazer.
A escola ajusta-se muito bem e de muitas formas ao estádio de desenvolvimento das crianças, exigindo delas produção e ordem. A relação com as novas pessoas que representam a autoridade e a competência exercita, da parte da criança, a adaptação, a auto-afirmação, a capacidade de concentração, etc.
Esta entrada surge como uma mudança
fundamental na vida da criança. Ela passará a estar sujeita a avaliações por
parte do (s) seu (s) professor (es), colegas, bem como por si mesma,
necessitando possuir um auto-controlo que lhe permita corresponder às novas
exigências.
·
Uma nota para a importância dos adultos
neste processo. Para que a criança possua um bom desenvolvimento académico, é de
extrema importância que receba bons modelos, bem como feed-backs positivos e
adequados por parte dos adultos mais próximos (pais e professores). Aprender é
descobrir o mundo à sua volta, e tal é sempre melhor quando devidamente
acompanhado pelas pessoas que nos são importantes, e as principais bases da
nossa auto-estima.
Desenvolvimento Cognitivo
Nestas idades, deve-se dar ênfase a
competências e actividades como contar, classificar, construir e manipular, com
o objectivo de estimular o desenvolvimento cognitivo da criança.
As actividades podem (e devem) ter cada vez mais regras. O valor destas é quase mais significativo do que a actividade em si. Enquanto a criança em idade pré-escolar obedece às regras sem compreender o porquê da sua existência, a partir dos 6/7 anos percebe-as pelo seu valor funcional.
Esta é uma fase também caracterizada pelo
desenvolvimento motor da criança, que lhe permite adquirir um maior equilíbrio,
coordenação e controlo do seu corpo. Actividades que potenciem e levem à exploração
do corpo e seus limites potenciam a aquisição do esquema corporal. Este
desenvolvimento é preponderante para todo o desenvolvimento académico, pois é a
partir do nosso corpo que inicio a exploração para o resto do mundo e, áreas
com o a percepção visual e temporal, desenvolvidas através de actividades tão
lúdicas como brincar à apanhada e jogar às escondidas são essenciais para a
aprendizagem académica (sendo este só um pequeno exemplo). Daí que, mesmo com a
entrada para a escola, não se deve nunca desvalorizar a importância do brincar
no desenvolvimento da criança.
Socialização
A identidade de sexo continua a
estruturar-se, através dos modelos de identificação masculina e feminina
fornecidos pelos adultos mais significativos. Só pode crescer bem como rapaz ou
rapariga quem tem para quem olhar e com quem se identificar.
O grupo de pares torna-se progressivamente
mais importante e, a pertença a um grupo é fundamental para a sua identidade.
As crianças tendem a aproximar-se de outras com gostos ou características com
que se identifiquem sendo, com frequência, neste período, que se nota a maior
separação entre os grupos e brincadeiras de “meninos e meninas”.
Não obstante este passo, a importância e
necessidade de proximidade afectiva dos pais é ainda de extrema importância.
Passa também por eles contribuírem para uma progressiva transferência da
regulação do comportamento da criança para a mesma, potenciando e incentivando
a auto-regulação.
Educação
Não é possível dar receitas para uma educação "correcta". Os conselhos isolados, ao contrariarem o estilo educativo geral, confundem os pais e fazem com que a criança fique sem saber de que modo deve comportar-se. Mais fácil do que dar receitas de educação "normal" é dizer como não se deve ser a educação: despótica, dogmática, moralizadora, superexigente, com mimos excessivos, abandono ou contradições.
Não é possível dar receitas para uma educação "correcta". Os conselhos isolados, ao contrariarem o estilo educativo geral, confundem os pais e fazem com que a criança fique sem saber de que modo deve comportar-se. Mais fácil do que dar receitas de educação "normal" é dizer como não se deve ser a educação: despótica, dogmática, moralizadora, superexigente, com mimos excessivos, abandono ou contradições.
O que importa, pois, é a atitude global
dos pais, sendo válida a antiga norma do amor e do exemplo. A união entre os
pais, a capacidade para servir de modelos, aceitação incondicional da criança,
sem mimá-la em excesso. Os pais devem ser firmes sem dureza, alegres e
positivos, deixando a criança "um pouco solta", sem angústias, nem
indiferença: estas são as melhores condições para a criança aprender a
auto-afirmar-se, não se tornando egoísta e passiva.
A forma da educação deve ajustar-se à
idade da criança. À criança em idade Pré-Escolar, deve-se, até certo ponto,
"soltar", não lhe perturbando o desenvolvimento com excesso de
cuidados educativos; por outro lado, só se aprendem umas tantas normas, nessa
idade, mediante uma espécie de condicionamento, à base de prémio e castigo. A
criança, em idade escolar, é mais acessível ao conselho e ao esclarecimento
(dentro de certos limites).
Algumas palavras sobre os castigos aplicados
à criança pequena: o próprio castigo deve ser caloroso (tanto no que diz
respeito ao afecto parental como relativamente à recordação que a criança
guarda); e não deverá deixar ressentimento nem aos pais, nem aos filhos.
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